Thursday, March 29, 2007

Estátua

Se um dia eu for uma estátua, quero mais é que as pombas caguem em mim.
Quero mais é ser um depósito de fezes.
Quero que a gurizada rabisque seus nomes pelo meu corpo.
E que os casaizinhos namorem perto de mim.
Que tirem fotos fazendo poses engraçadas comigo.
Quero mais é que se dane o Laçador.
Quero que se dane o Cristo Redentor.
Toda essa gente que teve que morrer pra conseguir uma estátua em seu lugar.
(Tá, o Crixto morreu até. Mas o Laçador é só imaginação)
Toda vez que morre um imbecil nasce uma estátua.
E as estátuas são seres marotos.
Passam o dia só a observar.
Ficam pescando coisas no ar, devem achar mais engraçada a vida, o universo e tudo mais.
As estátuas são marotas porque elas sabem de tudo que se passa ao redor,mas ficam na delas, não divulgam nada, não são sensacionalistas e nem ao menos falam nada a respeito.
Essa é a parte mais irritante da coisa.
Elas não falam.
Mas estão bem vestidas, bem inspiradas.
Marotas.
Espero nunca ter moral pra ser imbecil o suficiente pra quando eu morrer fazerem uma estátua de mim.
Espero que nunca preservem minha imagem num pedaço de um material.
Rugas congeladas no tempo!
Minha gordura pra sempre estampada em algum lugar comercial do centro de uma cidade.
Um ponto turístico, e olha quem está lá!
Sempre bisbilhotando pra ver quem chega e quem vai.
Será que um dia alguém saberá quem tu realmente foi?
Que tua imbecilidade te fez estátua?
Só me resta aguardar.

Mas se um dia fizerem uma estátua de mim, espero estar com o dedo médio erguido para uma direção boa.
Ou para o céu.

Friday, March 02, 2007

O careca das Jaquetas Reversíveis Tevah

Sempre que eu vejo o careca das jaquetas reversíveis Tevah, eu fico pensativo:
E se nós fossemos como um jaqueta reversível Tevah?
E se nosso interior pudesse ser colocado pro lado de fora naturalmente
Sem precisar de coragem pra soltar
Ou coragem pra segurar o que se sente
Meu amor, minha epiderme
Minha tristeza, meu joelho
Uma alegria na barriga
Seria engraçado tocar teu coração
E o careca das jaquetas reversíveis Tevah me vestindo, me usando
Em qualquer lugar bonito, com aquele sorriso maroto no rosto
Seria jóia
Seria supimpa
Se ele tivesse uma lombriga
E o lado de fora fica pra dentro
Até desbotar e a gente troca
Ou no inverno,
ter outra jaqueta reversível Tevah, sendo a mesma.
Ser toda semana um, sendo o outro.
Até desbotar e a gente perde a graça
Assim como toda roupa um dia desbota
Todo livro da escola é riscado
Toda crocância um dia fica molenga
Tudo um dia perde a graça
Mas falando sério,
Como é que seria?
Se a gente não precisasse (ou não pudesse)
Guardar o que a gente sente?