Wednesday, October 07, 2009

Estive

Eu estive
Deitado num lago de gelo seco
Com cobertura de brigadeiro
Esperando a luz divina descer do céu
E me dizer que tenho mais 83 anos de vida
Estragando assim meu dia glorioso
Me odiando pelo azar de estar ali
Na hora errada
Mas eu estive
Aí ontem pra dizer que te amo, te amo, te amo.
E não importa quantos anos vou viver
Pra ver tuas rugas
E teu rosto envelhecer
Mas tu tinha saído
Com outro cara
E eu torci pra que ele te levasse para algum lugar chato
Com gosto amargo
Sem cobertura
E com cheiro de chulé
Estive torcendo pra que você pedisse pra ir embora
E ligasse pra dizer que me ama, me ama, me ama.
E eu iria dizer que você havia ligado pro número errado
E iria dormir
Sem nunca mais estar ai pra ti.

Cenas Cortadas

Às vezes parece que minha vida é composta por cenas cortadas de filmes que vivi.
Como se não fosse importante,
Ou necessário.
Como se eu não fizesse parte da minha própria vida.
Da minha lembrança.
Como se tudo que eu vivi
Fosse apenas mais alguma coisa que passou.
Às vezes imagino a minha vida como um filme
Em que sou um ator coadjuvante
Que erra as falas
E sua a mão quando lhe perguntam algo.
Ou um filme simples
Sem ação
Sem suspense
Nem drama, nem comédia.
Um simples filme,
Com as coisas que não previ
Não sou o cara sentado no banco
Analisando a vida que passa
Mas sou sim, a tal vida que passa
Vivendo a vida sentada.
Vivendo,
O tudo do nada que restar pra viver
Imaginando filmes
Livros
E Sonhos.
Sobre tudo que eu não sei se realmente sou.

Oralfabeto

Eu não escrevo pra quem lê
Escrevo pra quem simplesmente coleciona letrinhas
E mergulha numa sopa delicada e singela
Não escrevo para intelectuais,
Pois são chatos demais pra entender o que eu escrevo

Escrevo por que não consigo dizer
Passo pro papel o que sinto – ou finjo sentir
Só pra causar
Pra me acomodar

Já comecei livros
Sem contar nenhuma história
O papel prende as palavras
Como se fossem folhas primitivas em rochas
E as palavras ficam condenadas a serem lidas
E não sentidas!